março 27, 2015

78

É isto, o meu paizinho hoje faz 78 anos.

Vamos jantar com ele.
Apesar de pensar que só vamos amanhã. Amanhã é o dia da minha mãe.

Por isso, apesar de já muito cansada, ontem pouco antes da meia noite, ainda fiz um bolinho para lhe cantarmos os Parabéns, hoje. Por é hoje o seu dia.



78 já são imensos.
Não quero pensar muito nisto. Pois, desejo sempre que faça mais um. Um de cada vez. Chega :)
Porque 78 já são imensos e no fim das contas nem são assim tantos.

O meu pai sempre foi uma pessoa ocupada. Trabalhou sempre, até há cerca de 2 anos. Depois ia lá só controlar. Fechou o negócio em definitivo no mês passado. Vendeu tudo abruptamente. Ficámos todos chocados. Nunca pensámos que o faria, muito menos assim, desta maneira.
Ninguém se meteu, ninguém disse nada. Inclusive a minha mãe, que tem sempre a última palavra.
Foi a decisão dele, disse ela. Nós aceitámos, apesar de não concordarmos.

Nunca pensei ver o meu pai tão parado. Era super activo. Agora vê novelas! coisa que toda a sua vida criticou. Passa o tempo em casa. Sai apenas de manhã, vai arranjar o jardim, passei de trás para a frente e fala com os velhos, como chama aos amigos, tão velhos ou mais novos que ele.

Almoça religiosamente ao meio dia. Sempre foi assim.
Os almoços de Domingo sempre foram um stress, aguentá-lo até às 13h era um suplicio. Agora que tenho dois e moro longe, já esperou até às 14.30h sem protestar. 

Detesto vê-lo parado. Pouco sai depois de almoço.
As únicas ocupações e saídas para longe, só quando vai ao médico, quando tem alguma coisa importante a tratar, que não possa ser a minha mãe a fazê-lo.

O meu pai, era a última pessoa que eu pensava, que estar sem fazer nada lhe mexesse com o intimo. Mas não, enganei-me.

Continua desenrascado, sem problemas de fazer o que quer que seja.
Das duas vezes que a minha mãe foi operada aos joelhos, nunca quis vir para minha casa, ou para a da minha irmã. 
Ele foi ao supermercado, preparou almoço e jantar, arrumou a casa e tratou dele.

Digo-lhe para ir andar, para apanhar sol e ar. Mas não. Apenas de manhã. 
Levanta-se todos os dias às 6h (e sempre lhe pergunto que compromissos tem. Responde: tenho comigo), toma o pequeno-almoço, vai à rua um bocadinho, volta para casa, almoça e só.

E isto está a afectar-lhe a cabeça. Está teimoso, mais que nunca. Não consegue saber nem resolver nada. Passa tudo à minha mãe.

Mas há uma coisa em que ainda é capaz em pleno.
Há na Vida dele, uma piratinha que lhe enche a alma e o sorriso. Se já vibrava com o meu filho, ainda mais vibra com a minha filha.
Ao menos com ela tem de se mexer. E muito!
Fica com os dois, sozinho, se for preciso. 
Contrói carrinhos de linhas e rolamentos pacotes de manteiga e volantes de cana para o Manel, faz vestidinhos para as minhas barriguitas e dá à Luisinha.

Enche-se de orgulho com os estes dois netos e sorri, sorri muito.
É stressado, tem medo que a Luisinha se magoe, não deixa o Manel fazer-lhe nada, mas tudo por protecção.

Gosto tanto, tanto de lhe dar abraços, de lhe dar beijinhos, na sua pele sempre suave e macia, com pouquissimas rugas. De lhe dar palmadinha e chamar-lhe velhinho...

O meu paizinho faz hoje 78 anos.