agosto 05, 2009

TOO TIRED

Eu quero. Sim eu quero ficar em casa sem mexer uma palha. Posso? eu sei que no fim-de-semana que vem combinámos com um grupo de amigos ir para o Algarve. Sei que me pediram para dizer alguma coisa na segunda-feira. Se não o fiz foi porque não sabia a resposta. Não porque me apeteceu.
Primeiro porque há um trabalho para se fazer na terça-feira (também no Algarve) e o tempo é curto, depois para poder ir para o Algarve teria de se trabalhar em demasia durante a semana. Não me apetece. Estou demasiado cansada para andar de um lado para o outro. E ir para baixo no sábado à tarde e regressar no domingo à noite acho que é demasiado para o meu estado, sinto-me muitissimo cansada. Posso sentir-me assim ou tenho de me sentir culpada por isso?
Posso estar cansada ao ponto de chegar à cama e adormecer em menos de 5 minutos? de não conseguir acordar à hora que devia, e desligar constantemente o maldito despertador que insite em me torturar logo de manhã? Posso não querer fazer uma viagem porque sei que na segunda-feira tenho de estar no trabalho às 8.30h? Posso desistir do que inicialmente tinha pensado? ou tenho de me sensurar porque não tenho férias e o meu corpo insiste em achar que sim? Posso não querer passar um fim-de-semana mesmo que o J. queira?
Posso não querer andar kilómetros de carro? Posso isto tudo mesmo que saiba que me ia divertir e estar com pessoas que gosto, mesmo que algumas dessas pessoas não me tratem muito bem por eu dizer que não quero ir? Posso dizer não mesmo que sinta que não gostaram da minha resposta? Posso mudar de ideias? Posso? Posso? Posso?

Diz-me onde moras

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios,comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinhaum problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide eMoscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático doque umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.

Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou porcuriosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casanão interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora emMassamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos,Murtosa, Angeja. ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.

Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)

Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Vendadas Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não estápreparado para entrar na Europa.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixao Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?

Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira nãoé nada comparado com certos nomes portugueses.

Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente"E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).

E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E ondemora, presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita naHerdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda,logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer nalocalidade de Vergão Fundeiro?

Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nomede uma versão transmontana do Garganta Funda.

Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela(em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso ?Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?

É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".

Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, anossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles quefazem apetecer mentir.

Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação denaturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).

É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigosestrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-locomo sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugarchamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos comos nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse éCaseira, Vai Mais um Rissol. (...)

Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer umpercurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando peloCorte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), eacabando a comprar rebuçados em Bombom do Bogadouro (Amarante),depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã)."

Miguel Esteves Cardoso