março 28, 2015

71

Hoje é o dia da minha mãe. 71.

A minha mãe é despachada, divertida, fala alto, ri alto,é desenrascada, destemida, valente. Corajosa. Não se queixa com nada. Está sempre bem quando lhe perguntam. Conta anedotas sem fim, tem sempre uma para cada ocasião. Aguenta a dor como ninguém, não é piegas, nem chorona. Adora novelas, sempre adorou. Vê filmes até madrugada. Cose, costura e faz crochet. 

Não dispensa tomar o pequeno-almoço fora, todos os dias. Religiosamente no mesmo sitio, com umas quantas amigas. Depois vai às compras para a casa, para o almoço. Todos os dias o mesmo. 
Anda a pé imenso, mesmo a chover não quer boleia. Anda depressa muito depressa. Lembro-me de ser pequenina e para a acompanhar tinha de ir a correr.

Sai orgulhosa com a minha Luisinha no carrinho e vai ao café "mostrá-la às amigas".
Adora levar o Manel também porque dá-lhe conversa e fica maravilhada com as coisas que o miudo diz, mas este prefere ficar com o avô, no jardim ou a jogar à bola no campo!

Criou 4 filhos e outros tantos sobrinhos, no tempo em que os pais iam trabalhar, deixavam os filhos e vinham vê-los ao fim-de-semana. Não por prazer, mas por não haver opção.

Só quando o meu primo P casou, tinha eu na altura uns 5 anos, tive a noção que ele não era na realidade meu irmão. Nas minhas lembranças, ele esteve sempre lá por casa. partilhava o quarto dos meus irmãos, fazia todas as refeições connosco e sempre foi tratado por igual. Só quando saiu, percebi.

Durante a minha vida já tive tantos arrufos com ela.
Já chocámos tanto que fez faísca.
Já teve imensas atitudes que me deixou de rastos, triste e desorientada. Ambas sabemos os motivos, mas não lhe atiro todas as culpas.
Tenho um feitio especial. Ela também.

O que passou, passou.
Com a idade melhorou, refreou. Eu também.
Desde que fui mãe, comecei a ver as coisas de maneira diferente, talvez a aceitar mais, ou a ter mais paciência.

Hoje é o dia da minha mãe. 71.

E não vou falar de mim, de nós.

Quero agradecer-lhe tudo  que tive, tenho e o que sou.
Quero agradecer-lhe a maneira como trata os meus filhos. A paciência que tem para eles. Se for preciso rebola no chão já tive de a chamar à atenção, senão o Manel faz dela o que quer.

Adoro o que cozinha, sinto saudades da sua comida.
Ligo, peço as receitas e tento replicar, mas nada tem o mesmo sabor.
Vibra com isso, liga a dar receitas, escreve-as em guardanapos e dá-me sempre a incentivar a fazer. 

Aos Domingos quando volto para casa, manda-me a sopa feita, bem passadinha para os meninos, frutas e legumes em caixas, almoço e jantar que dá quase para uma semana. 
Por vezes manda um bolo, arroz doce ou aquela gulodice que adoro e que nunca faço em casa.

Manda amendoins em sacos, gomas e rebuçados, ovos kinder e mais não deixo, senão qualquer dia tenho um puto diabético e obeso!

Se tenho uma baínha para fazer, umas calças para remendar, um bibe do colégio descosido, um botão para pregar. A minha mãe arranja. 

Preocupa-se com os meus amigos. Todas as minhas amigas a adoravam, falavam sempre com ela como se fosse uma amiga e não a minha mãe. 
Sempre foi a minha cúmplice em muitas coisas. Sempre soube de todos os meus namoricos e sempre me incentivou a fazer o que me faz feliz. 

Deu-me mais do que eu pedia e menos do que tantas vezes necessitava.

Não é perfeita, mas é a minha.

Muitos parabéns mãezinha, gosto muito, muito de ti, mesmo que nunca te tenha dito muitas vezes não sei porque foi sempre mais fácil dizê-lo ao pai...